terça-feira, 5 de agosto de 2014

A natureza , o homem e a arte ( parte 1 )

A arte está para o homem como o homem está para a natureza . Quando a natureza , no seu desenvolvimento , foi capaz de conter em si as condições para a existência do homem , o homem surgiu totalmente por si : logo que a vida humana gera a partir de si as condições para o aparecimento da obra de arte , esta surge também por si mesma na vida.

A natureza gera e configura sem intenção e sem faculdade de decidir , segundo aquilo de que carece , e consequentemente por necessidade : a mesma necessidade é força geradora e configuradora da vida humana ; só o que é sem intenção e sem vontade brota do real carecer , e o fundamento da vida reside apenas nesse carecer . 

A partir do momento em que o homem sentiu a sua diferença face à natureza - começando de facto aí o seu desenvolvimento enquanto homem , uma vez que só nesse momento ele se libertou da inconsciência da vida natural , animal , para entrar na vida consciente - , a partir do momento em que , portanto , o homem se contrapôs à natureza e nele se desenvolveu o pensamento com base no sentimento de dependência em relação a ela , o qual pela primeira vez brotou dessa contraposição , a partir de então começa o erro , enquanto primeira expressão da consciência . O erro é , contudo , o pai do conhecimento , e a história da geração do conhecimento a partir do erro é a história do género humano , desde o mito dos tempos originários até aos dias de hoje . 

O homem errou desde o momento em que colocou a causa dos efeitos da natureza fora da essência da própria natureza , desde o momento em que , para o fenómeno sensível , supôs um fundamento não-sensível , representando-se este fundamento como humanamente arbitrário , desde o momento em que tomou a conexão infinita da actividade não-consciente e não-intencional da natureza por procedimento intencional decorrente de decretos finitos de uma vontade , destituídos de qualquer conexão . É na resolução deste erro que consiste o conhecimento ; o conhecimento é a compreensão da necessidade dos fenómenos , cujo fundamento antes nos parecia ser arbítrio . 

Ora , se a natureza , através da sua conexão com o homem , alcança a sua consciência precisamente no homem , e se o exercício prático dessa consciência é a própria vida humana - por assim dizer enquanto representação , enquanto imagem da natureza - , então a vida humana atinge a sua própria intelecção através da ciência que por seu turno faz dela objecto do seu conhecimento ; porém , o exercício prático da consciência alcançada através da ciência , a representação da vida conhecida por intermédio dela , a imagem da necessidade e da verdade da vida é ... a arte . 








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