domingo, 24 de maio de 2015

Identidade artística : Fernando Pessoa heterónimos

Desde criança , Fernando Pessoa , particularmente após a morte do irmão , mostra-se reservado e solitário , o que o leva à criação de diversos amigos imaginários “ exatamente humanos “ . Fernando Pessoa , ao sentir-se variamente outro , ao “ outrar-se “  , cria amigos que exprimem estados de alma e consciência distintos dos seus e , por vezes , opostos . O “ Eu “ do artista despersonaliza-se , desdobra a própria individualidade , torna-se essência dos outros e de si , para melhor exprimir a apreensão da vida , do ser e do mundo .


Os poemas de cada heterónimo , ou , voltando à alegoria do palco , o que cada uma das personagens diz , são só do autor Pessoa por um duplo processo de criação para conseguir representar a diversidade que virtualmente possui . Como afirma , “ não há que buscar em quaisquer deles ideias ou sentimentos meus , pois muitos deles exprimem ideias que não aceito , sentimentos que não tive “ .


Alberto Caeiro 

Alberto Caeiro apresenta-se como um simples “ guardador de rebanhos “ , que só se importa em ver de forma objetiva e natural a realidade com a qual contacta a todo o momento .
Poeta do olhar , procura ver as coisas como elas são , sem lhes atribuir significados ou sentimentos humanos . Considera que “ pensar é estar doente dos olhos “ , pois as coisas são como são . Ver é conhecer e compreender o mundo , por isso , “ pensa vendo e ouvindo “ . Não lhe interessa o que se encontra por trás das coisas . Recusa o pensamento metafísico , afirmando que “ pensar é não compreender “ .

Caeiro constrói uma poesia das sensações , apreciando-as como boas por serem naturais . Para ele , o pensamento apenas falsifica o que os sentidos captam . É um sensacionista , que vive aderindo espontaneamente às coisas , tais como são , e procura gozá-las com despreocupada e alegre sensualidade .

Alberto Caeiro apresenta-se como um simples “ guardador de rebanhos “ , que só se importa em ver de forma objetiva e natural a realidade com a qual contacta a todo o momento .

Poeta do olhar , procura ver as coisas como elas são , sem lhes atribuir significados ou sentimentos humanos . Considera que “ pensar é estar doente dos olhos “ , pois as coisas são como são . Ver é conhecer e compreender o mundo , por isso , “ pensa vendo e ouvindo “ . Não lhe interessa o que se encontra por trás das coisas . Recusa o pensamento metafísico , afirmando que “ pensar é não compreender “ .

Caeiro constrói uma poesia das sensações , apreciando-as como boas por serem naturais . Para ele , o pensamento apenas falsifica o que os sentidos captam . É um sensacionista , que vive aderindo espontaneamente às coisas , tais como são , e procura gozá-las com despreocupada e alegre sensualidade . 



Ricardo Reis

Ricardo Reis é o poeta clássico , da serenidade epicurista , que aceita , com calma lucidez , a relatividade e a fugacidade de todas as coisas . Ricardo Reis aceita a crença nos deuses , enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos , mas defende , sobretudo , a busca de uma felicidade relativa alcançada pela indiferença à perturbação .

A filosofia de vida de Ricardo Reis é um epicurismo triste , pois defende o prazer do momento , o carpe diem  , como caminho da felicidade , mas sem ceder aos impulsos dos instintos .

Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar , considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade , ou seja , a ataraxia ( a tranquilidade sem qualquer perturbação ) . 

Sente que tem de viver em conformidade com as leis do destino , indiferente à dor e ao desprazer , numa verdadeira ilusão da felicidade , conseguida pelo esforço estoico lúcido e disciplinado . Pessoa afirma que os próprios deuses “ sobre quem pesa o Fado “ não têm a calma , a liberdade e a felicidade .

Ricardo Reis recorre à ode e a uma ordenação estética marcadamente clássica . A sua poesia intelectual faz a apologia da indiferença do homem diante do arbítrio do poder dos deuses e faz renascer o objetivismo helénico reencarnado uma reexperimentação do pensamento e da estética que se distancia de Pessoa , mas que o configura . Em Ricardo Reis há a apatia face ao mistério da vida mas também se encontra o mundo de angústias que afeta Pessoa .

Ricardo Reis é um poeta contemplativo que procura a serenidade , livre de afetos e de tudo o que possa perturbar o seu espírito . É , também um estoico , apesar de , aparentemente , resignado . Há , no seu pensamento , uma tensão , uma atitude de luta contra tudo o que lhe tire o desassossego . É uma atitude vital na busca do entendimento da felicidade e da liberdade a que tende o homem , obrigado a viver num meio social adverso .

Para Reis é necessário saber apreciar , muito consciente e tranquilamente , o prazer das coisas , sem qualquer esforço ou preocupação . É preciso viver a vida em conformidade com as leis do destino , indiferente à dor e ao desprazer .


Álvaro de Campos


Álvaro de Campos é o mais moderno dos heterónimos . Fernando Pessoa descreve-o como engenheiro naval , e afirma que escreve em seu nome quando sente “ um súbito impulso para escrever “ .

Pessoa considera que Campos se encontra “ no extremo oposto , inteiramente oposto a Ricardo Reis “ , apesar de , como este , ser um discípulo de Caeiro .

Para Campos , a sensação é tudo . O Sensacionismo torna a sensação a realidade da vida e a base da arte . O “ eu “ do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir . Álvaro de Campos é quem melhor procura a totalização das sensações , mas sobretudo das perceções conforme as sente , ou como ele próprio afirma “ sentir tudo de todas as maneiras “ . 

O seu Sensacionismo distingue-se do de Alberto Caeiro na medida em que este considera a sensação captada pelos sentidos como a única realidade , mas rejeita o pensamento . Caeiro , na sua simplicidade e serenidade , via tudo nítido e recusava o pensamento para fundamentar a sua felicidade ; Campos , sentindo a complexidade e a dinâmica da vida moderna , procura sentir a violência e a força de todas as sensações .

O drama de Álvaro de Campos concretiza-se num apelo dilacerante entre o amor do mundo e da humanidade ; é uma espécie de frustração total feita de incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento , mundo exterior e mundo interior .

Em Campos , há a vontade de ultrapassar os limites das próprias sensações numa vertigem insaciável , que o leva a querer “ ser toda a gente e toda a parte “ . Numa atitude unamista , procura unir em si toda a complexidade das sensações .

Depois de exaltar a beleza da força e da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida , a poesia de Campos revela um pessimismo egónico , a dissolução do “ eu “ , a angústia existencial e uma nostalgia da infância irremediavelmente perdida . 

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