Desde
criança , Fernando Pessoa , particularmente após a morte do irmão , mostra-se
reservado e solitário , o que o leva à criação de diversos amigos imaginários “
exatamente humanos “ . Fernando
Pessoa , ao sentir-se variamente outro , ao “ outrar-se “ , cria amigos
que exprimem estados de alma e consciência distintos dos seus e , por vezes ,
opostos . O “ Eu “ do artista despersonaliza-se , desdobra a própria
individualidade , torna-se essência dos outros e de si , para melhor exprimir a
apreensão da vida , do ser e do mundo .
Os poemas de
cada heterónimo , ou , voltando à alegoria do palco , o que cada uma das
personagens diz , são só do autor Pessoa por um duplo processo de criação para
conseguir representar a diversidade que virtualmente possui . Como afirma , “ não há que buscar em quaisquer deles ideias
ou sentimentos meus , pois muitos deles exprimem ideias que não aceito ,
sentimentos que não tive “ .
Alberto Caeiro
Poeta do
olhar , procura ver as coisas como elas são , sem lhes atribuir significados ou
sentimentos humanos . Considera que “ pensar
é estar doente dos olhos “ , pois as coisas são como são . Ver é conhecer e
compreender o mundo , por isso , “ pensa
vendo e ouvindo “ . Não lhe interessa o que se encontra por trás das coisas
. Recusa o pensamento metafísico , afirmando que “ pensar é não compreender “ .
Poeta do
olhar , procura ver as coisas como elas são , sem lhes atribuir significados ou
sentimentos humanos . Considera que “ pensar
é estar doente dos olhos “ , pois as coisas são como são . Ver é conhecer e
compreender o mundo , por isso , “ pensa
vendo e ouvindo “ . Não lhe interessa o que se encontra por trás das coisas
. Recusa o pensamento metafísico , afirmando que “ pensar é não compreender “ .
Caeiro constrói uma
poesia das sensações , apreciando-as como boas por serem naturais . Para ele ,
o pensamento apenas falsifica o que os sentidos captam . É um sensacionista ,
que vive aderindo espontaneamente às coisas , tais como são , e procura
gozá-las com despreocupada e alegre sensualidade .
Ricardo Reis
A filosofia
de vida de Ricardo Reis é um epicurismo triste , pois defende o prazer do
momento , o carpe diem , como caminho da felicidade , mas sem
ceder aos impulsos dos instintos .
Sente que tem de viver em
conformidade com as leis do destino , indiferente à dor e ao desprazer , numa
verdadeira ilusão da felicidade , conseguida pelo esforço estoico lúcido e
disciplinado . Pessoa afirma que os próprios deuses “ sobre quem pesa o Fado “ não têm a calma , a liberdade e a
felicidade .
Ricardo Reis
é um poeta contemplativo que procura a serenidade , livre de afetos e de tudo o
que possa perturbar o seu espírito . É , também um estoico , apesar de ,
aparentemente , resignado . Há , no seu pensamento , uma tensão , uma atitude
de luta contra tudo o que lhe tire o desassossego . É uma atitude vital na
busca do entendimento da felicidade e da liberdade a que tende o homem ,
obrigado a viver num meio social adverso .
Para Reis é
necessário saber apreciar , muito consciente e tranquilamente , o prazer das
coisas , sem qualquer esforço ou preocupação . É preciso viver a vida em
conformidade com as leis do destino , indiferente à dor e ao desprazer .
Álvaro de Campos
Álvaro de
Campos é o mais moderno dos heterónimos . Fernando Pessoa descreve-o como
engenheiro naval , e afirma que escreve em seu nome quando sente “ um súbito
impulso para escrever “ .
Pessoa
considera que Campos se encontra “ no extremo oposto , inteiramente oposto a
Ricardo Reis “ , apesar de , como este , ser um discípulo de Caeiro .
Para Campos
, a sensação é tudo . O Sensacionismo torna a sensação a realidade da vida e a
base da arte . O “ eu “ do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou
teve existência ou possibilidade de existir . Álvaro de Campos é quem melhor
procura a totalização das sensações , mas sobretudo das perceções conforme as
sente , ou como ele próprio afirma “ sentir tudo de todas as maneiras “ .
O seu
Sensacionismo distingue-se do de Alberto Caeiro na medida em que este considera
a sensação captada pelos sentidos como a única realidade , mas rejeita o
pensamento . Caeiro , na sua simplicidade e serenidade , via tudo nítido e
recusava o pensamento para fundamentar a sua felicidade ; Campos , sentindo a
complexidade e a dinâmica da vida moderna , procura sentir a violência e a
força de todas as sensações .
O drama de
Álvaro de Campos concretiza-se num apelo dilacerante entre o amor do mundo e da
humanidade ; é uma espécie de frustração total feita de incapacidade de
unificar em si pensamento e sentimento , mundo exterior e mundo interior .
Em Campos ,
há a vontade de ultrapassar os limites das próprias sensações numa vertigem
insaciável , que o leva a querer “ ser toda a gente e toda a parte “ . Numa
atitude unamista , procura unir em si toda a complexidade das sensações .
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