Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em 13 de Junho de 1888 em
Lisboa e foi um dos mais importantes poetas do Modernismo em Portugal .
Durante sua vida , Fernando Pessoa trabalhou em vários lugares
como correspondente da língua inglesa e francesa . Foi também empresário ,
editor , crítico literário , jornalista , comentador público , tradutor ,
inventor , astrólogo e publicitário , e ao mesmo tempo produzia suas obras em
verso e prosa .
Pode-se dizer que a vida do poeta foi dedicada a criar e que , de
tanto criar , criou outras vidas através dos seus heterónimos .
Fernando Pessoa foi um dos protagonistas de um dos movimentos mais importantes do século XX : O Modernismo .
Modernismo : Movimento artístico cuja tendência
era valorizar o atual e o novo , sendo caracterizado por uma nova conceção de
arte cosmopolita das novas gerações que revolucionou as conceções estéticas que
vigoravam atualmente .
São características de estilo desse movimento:
·O rompimento com o passado;
·O caráter anárquico;
·O sentido demolidor e irreverente;
·O nacionalismo com uma postura crítica, irónica e que
questiona a situação social e cultural do país.
·A interação de linguagens e complexidade de formas literárias
(com os diversos “ ismos “ ) e processos retóricos inovadores .
·Uma nova conceção de leitura como linguagem – põe em causa as
relações tradicionais entre o autor e a alma.
Orphismo :
Movimento que alterou o rumo da literatura portuguesa . Esta revista foi o
marco inicial do Modernismo em Portugal . Influenciada pelas grandes correntes
estéticas europeias , reunia grandes autores
com propostas inovadoras , entre eles , Fernando Pessoa .
Quando se fala de Fernando Pessoa interessa distinguir o ortónimo dos heterónimos que criou e para quem estabeleceu uma biografia própria . O seu universo heteronímico permitiu-lhe criar diferentes personalidades com outros nomes como Alberto Caeiro , Ricardo Reis ou Álvaro de Campos ; mas há uma personalidade poética ativa que mantém o nome de Fernando Pessoa e , por isso , se designa de ortónimo .
O texto lírico de Pessoa “ ele mesmo “ é , como afirma , um “ produto intelectual “ que permite exprimir recordações do que conserva da emoção . E estas revelam estados de alma que evidenciam a fragmentação , ou seja , a tendência do eu em deixar de ser uno , como sucedia na tradição romântica , e a pluralizar-se , no esforço de apreender a realidade cósmica e socio tecnológica , marcadamente plural da vida moderna . “ Sê plural como o universo “ , diz o poeta . Há um drama de personalidade que o leva à dispersão , em relação ao real e a si mesmo , provocando estas fragmentações .
O texto lírico de Fernando Pessoa é , também , um texto de reflexão . O ato de pensar concorre para a observação, análise e interpretação das emoções e sentimentos , intervindo na sua apreciação .
Fernando Pessoa ortónimo considera que o ato criativo só é possível pela conciliação das oposições entre realidades ( físicas ou psíquicas ) e realidades mentalmente construídas ( artísticas , incluindo as literárias ) . Daí a necessidade de intelectualizar o que sente ou pensa , reelaborando essa realidade graças à imaginação criadora .
A unidade dos opostos sinceridade /fragmento não é mais do que a concretização do processo criativo , que é vital para o ser humano e que só é possível ao afastar-se da realidade , da qual parte , para percecionar e produzir uma nova realidade . É nesta interseção , mas também das dicotomias do sentir/pensar e consciência/inconsciência , que o ortónimo procura responder às inquietações da vida e produzir a emoção estética através do poema , que “ simula a vida “ , como afirma . Ao não conseguir fruir a vida por ser consciente e ao não conseguir conciliar o que deseja ou idealiza com o que realiza , sente-se frustrado , o que traduz o drama de personalidade do ortónimo que , tal como os heterónimos , apresenta uma identidade própria diversa do autor Fernando Pessoa , conservando deste apenas o seu nome .
O Fingimento Artístico
Fernando Pessoa considera que a criação artística implica a conceção de novas relações significativas graças à distanciação que faz do mal , o que pode ser entendido como ato de fingimento ou de mentira . O poeta parte da realidade , mas distancia-se , graças à interação entre a razão e a sensibilidade , para elaborar mentalmente a obra de arte .
Não há propriamente uma rejeição da “ sinceridade de sentimentos “ do eu individualizado e real do poeta , mas interessa-lhe a capacidade de o eu poético estabelecer novas relações do ser com o Mundo e de dizer o que efetiva e intelectualmente sente . Como afirma Pessoa , a sinceridade intelectual ou metafísica é a única que interessa à poesia . Daí que o fingimento seja a mais autêntica sinceridade intelectual , pois “ fingir é conhecer-se “ .
A voz do poeta fingidor é a voz do poeta da modernidade , despersonalizado , que tenta encontrar a unidade entre a experiência sensível e a inteligência e , assim , atingir a finalidade da arte , aumentando a autoconsciência humana . O poeta recorre à ironia para pôr tudo em causa , inclusive a própria sinceridade que , com o fingimento , possibilita a construção da arte . O poeta codifica o poema que o recetor descodifica à sua maneira , mas sem necessidade de encontrar a pessoa real do escritor .
A Dor de Pensar
Fernando Pessoa sente-se condenado a ser lúcido
, a ter de pensar . Com uma inteligência analítica e imaginativa a interferir
em toda a sua relação com o mundo e com a vida , o eu lírico aceita a
consciência como sente uma verdadeira dor de pensar , que traduz insatisfação e
dúvida sobre a utilidade do pensamento . Impedido de ser feliz , devido à
lucidez , procura a realização do paradoxo de ter uma consciência inconsciente
. Mas ao pensar sobre o pensamento , percebe o vazio que não permite conciliar
a consciência e a inconsciência . O pensamento racional não se coaduna com o
verdadeiro sentir .
A Nostalgia da Infância
Do mundo
perdido da infância , Pessoa sente a nostalgia . Ele , que foi “ criança contente de nada “ e que em
adolescente aspirou a tudo , experimenta agora a desagregação do tempo e de
tudo . Um profundo desencanto e angústia acompanham o sentido da brevidade da
vida e da passagem dos dias . Ao mesmo tempo que gostava de ter a infância das
crianças que brincam , sente a saudade de uma ternura que lhe passou ao lado .
Busca múltiplas emoções e abraça sonhos impossíveis , mas acaba “ sem alegria nem aspiração “ . Tenta
manter vivo o “ enigma “ e a “ visão do que foi “ , restando-lhe a
inquietação , a solidão e a ansiedade .
Frequentemente
, para Fernando Pessoa o passado é um sonho inútil , pois nada se concretizou ,
antes se traduziu numa desilusão . Por isso , o constante ceticismo perante a
vida real e de sonho . Daí , também , uma nostalgia do bem perdido , do mundo
fantástico da infância , único momento possível de felicidade .
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