O poeta é um fingidor .
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente .
E os que leem o que escreve ,
Na dor lida sentem bem ,
Não as duas que ele teve ,
Mas só a que eles não têm .
E assim nas calhas da roda
Gira , a entreter a razão ,
Esse comboio de corda
Que se chama coração .
Isto
Dizem que finjo ou minto
Tudo o que escrevo . Não .
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação .
Não uso o coração .
Tudo o que sonho ou passo ,
O que me falta ou finda ,
É como que um terraço ,
Sobre outra coisa ainda .
Essa coisa é que é linda .
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé ,
Livre do meu enleio ,
Sério do que não é ,
Sentir ? Sinta quem lê ! .
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