Aqui vai uma proposta de reflexão para todos os estudantes e professores de arte. Este é um trecho adaptado do livro Design e Comunicação Visual de Bruno Munari:
Quando se
fala de investigação sobre a comunicação visual, os professores de arte riem-se
maliciosamente. Eles, de facto, sabem tudo sobre a arte, sabem como deve ser e
como não deve ser, sempre souberam tudo, com a máxima segurança, são assim
desde que nasceram, não há nada a fazer. Nas suas lições, continuam a ensinar a
arte do passado, um passado mais ou menos remoto, procurando ficar bem
agarrados a uma tradição cómoda, não ter problemas, perder o menor tempo
possível.
O que fazem
e o que pensam os estudantes das escolas de arte? São obrigados a aprender o
fresco, mas mal se veem fora delas (ou melhor, enquanto estudam) apercebem-se
de que a realidade fora da escola tem um outro aspeto, que existe algo de vivo
que se move no mundo da arte internacional, algo que na escola não é
considerado, e então deitam fora o fresco e dedicam-se a investigações sobre os
novos meios de comunicação visual, aprendem, em resumo, como autodidatas, a
viver no nosso tempo, já que a nossa escola é demasiado velha.
Existem dois
modos de preparar um programa de ensino; falamos, neste caso, das escolas de
arte. Existe um modo estático e um modo dinâmico. Existe um modo no qual o
individuo é forçado a adaptar-se a um esquema fixo, quase sempre ultrapassado
ou, no melhor dos casos, em vias de ser ultrapassado pela realidade prática de
cada dia. E um outro modo, que se forma pouco a pouco, continuamente modificado
pelos próprios indivíduos e pelos seus problemas sempre mais atuais.
No caso do
ensino estático, com programas fechados e inamovíveis, cria-se muitas vezes um
sentimento de mal-estar e, algumas vezes, mesmo de rebelião por parte dos
estudantes; noutros casos, o estudante, compreendida a inutilidade de todo e
qualquer protesto para adaptar o ensino aos seus verdadeiros interesses, segue
sem entusiasmo os cursos ou abandona mesmo a escola. No caso do ensino
dinâmico, os professores estudam um programa de base, o mais avançado possível
e assim modificável segundo os interesses que surgem do próprio ensino. Só no
fim do curso se saberá que forma teve e como se desenvolveu.
Para que
serve a escola, senão para preparar indivíduos capazes de enfrentar o mundo do
futuro próximo segundo as técnicas mais avançadas? Porque é que não se ensinam
estas técnicas (uma vez que a arte não se pode ensinar) em lugar das do
passado? O passado nunca mais volta, não existem renovações senão para com elas
nos divertirmos. Assim uma educação baseada só no passado não é de nenhuma utilidade
para um operador visual que deva operar no próximo futuro. O passado terá uma
função de informação cultural, mas deve estar ligado ao seu tempo, caso
contrário deixará de se compreender.
Isto é o que
pensam e dizem os jovens, já que olham para o estudo como o melhor modo para
aprender os meios do seu eventual futuro trabalho. Não pensam frequentar uma
escola de arte para melhor poderem praticar o seu hobby de pintura ou de
escultura. Aquelas que antes eram os únicos meios de comunicação visual surgem
hoje, em muitos casos, como inadequados, estáticos, lentos. Depois da invenção
do compasso, já ninguém faz circunferências à mão, a não ser por aposta ou para
demonstrar capacidade. E não creio que hoje, com todos os meios que estão à
nossa disposição, seja necessário aprender a desenhar o que se pode fotografar.
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